Fui à vila mais próxima e, na drogaria, comprei um mata-moscas. Diverti-me tanto a matar que, pouco tempo depois, tive de voltar à vila para comprar outro mata-moscas, que o primeiro já todo se esfrangalhara. Aliás, previdente como sou, acabei por comprar cinco mata-moscas - dois amarelos, um azul, dois encarnados.


Fui adquirindo prática a matar. Não é fácil a princípio, há que balançar o mata-moscas de um certo ângulo, devidamente estudado para efeitos de eficiência; então, com um lento movimento da mão que segura o mata-moscas, tenta-se uma furtiva aproximação, avança, avança mais e então ZÁS! Nem sempre resulta ou, melhor dizendo, só raramente resulta, embora já resulte mais agora que no princípio. É a experiência, a prática, o treino. Tudo isto porque a mosca é esperta e, indesmentivelmente, de uma resistência física notável. Imagine-se: o meu ZÁS acertou-lhe em cheio (parece), ela trémula, ressalta, cai no chão, ZÁS outra vez e, desta vez, sem ocasião para estudar o ângulo, já que ela jaz imóvel, de asa murcha e pernas quebradas, parece tão inevitável, ZÁS! Mas a mosca levanta voo e vai cair um metro à frente. ZÁS!, um metro à frente, a mosca soergue-se a baixa altura, rodopiante, patética, sem rumo ou destino, tolamente desorientada. É difícil abater a mosca no ar, mesmo a baixa altura, ZÁS! ZÁS!, e a mosca esquiva-se para a direita, para a esquerda, tresloucada. Aterra ferida de cansaço, além de estropiada. ZÁS! Desta vez, sim. Vou buscar a pazinha e a vassourinha que também comprei na drogaria para este efeito. Varro a mosca, ela rebola-se na pazinha, aquieta-se. Atiro-a para o recipiente do lixo. Noto, surpreendida, que ela ainda mexe, ainda quer escapar das cascas de batatas, da raspa de cenoura, das pontas amarelecidas das couves, dos ossos do meio frango assado no forno (se sete fôlegos tem o gato, o dobro deles terá a mosca). Com a vassourinha, revolvo a ordem do lixo para lhe impedir a fuga, provoco uma espécie de derrocada como, salvas as devidasm distâncias, uma derrocada de pedregulhos à entrada de uma gruta, para sempre bloqueando a saída para quem está dentro ou a entrada para quem está fora. E lá fica para sempre subtilizado à ambição humana o Tesouro dos Incas, a Arca Perdida, o Valioso Segredo dos Piratas Negros...
Bem, acho que estou a ver televisão a mais, é o que se diz agora na própria televisão, sempre que alguma personagem se aventura por caminhos de estouvada fantasia. Andas a ver televisão a mais!
Fernanda Botelho
4 comentários:
:D:D:D:D:D
és a maior!! já alguem te tinha dito?
muito bom, isto
sou nada a maior:P
sim, sim, é muito bom e de onde veio este vão vir mais posts:)
lindo! :D
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